e não pode entendê-las, porque elas se discernem espiritualmente.”
1 Coríntios 2:14
1 Coríntios 2:14
Civilizações hostis, majestades afortunados, tribos pés-descalços. Fortes ou fracos, nos desertos ou mares... a busca pelo sentido da vida se faz presente e a pálida sensação de ausência no olhar comove as faces igualmente insossas, sabe-se que mais um dia é vinda quando o sol atravessa a linha do horizonte... Em cada caminhar o corpo todo se arrepia...
SHINE - Mr. Big
O ovo e a galinha
É inútil indagar a razão do belo e do sublime... a criatura formosa não rende-se ao desconforto contido no amor, pois é paz entregue aos seus olhos. Finda o dia em suspiro, noite chega é acalento.
Alguns dizem que o amor é como um rio,
Denuncio o golpe baixo que me fez render o coração. Foi numa noite, parecia combinado, já era esperado que me ajoelhasse e me recuasse, abaixando as minhas mãos em punho. Foi dos teus olhos que de súbito abri os meus e do sonho fez-se o silencio... silencio árduo, silencio quente e abafado. Percebi então que já me perdia como quem perde uma moeda no bolso de um casaco velho e rasgado. Sim, confesso que não resisti, aceitei a condição que o silencio me impunha. Com todo cuidado mostrou-me um caminho verde-musgo todo enfeitado com esmeraldas de pontas afiadas... por instantes tive medo, mas o brilho encheu-me os olhos. A cada passo inseguro, meus pés descalços partia ao meio algumas das pedras do caminho, porém outras cravavam-me de forma rígida e impiedosa. Estremeci, chorei, gritei de tanta dor, mas o silêncio tratou de exercer o seu papel e não me disse nada... mas foi o nada que me fez levantar e ir atrás de uma resposta. Pedra por pedra, passo por passo, uma de cada vez. Lancei ao ar um sopro tímido, como um beijo de criança ao despedir. Do sopro fez-se o vento que elevou meus pés do chão. Em vôo sei que vi. Não me engano. Vi como quem vê as formigas carregando folhas secas para o inverno. Vi-te carregando pedaços de um coração. Pedaços pesados e encharcados... de sabor agridoce. Vi-te entulhar sentimentos, acumular sonhos e eliminar o excesso de paixão por acreditar ser bobo. Vi-te preparar para a guerra, correr para o campo e lutar com armaduras frágeis... atitudes vãs. Sei que vi muita coisa, garanto que vi. Mas nada se compara ao que vi em teu olhar. Olhar que desnuda, olhar que transborda, olhar que toca e me desmonta. Vi-te me vendo a ver-te. Podias também ver o coração que em mim batia, viu-me carregando pedaços desse coração, viu-me entulhar sentimentos, acumular sonhos e eliminar paixões. Viu-me na guerra, em lutas vãs. Vi... viu... veja, o silêncio nada me disse, mas me diga, quem foi que disse que o olhar é alfabetizado? Então sorri.
"Saudade é um pouco como fome. Só passa quando se come a presença. Mas às vezes a saudade é tão profunda que a presença é pouco: quer-se absorver a outra pessoa toda. Essa vontade de um ser o outro para uma unificação inteira é um dos sentimentos mais urgentes que se tem na vida". (Clarice Lispector - A descoberta do mundo)
O "facteur Cheval"