Wednesday, December 31, 2008

Sawabona
Sobre estar sozinho

Não é apenas o avanço tecnológico que marcou o inicio deste milênio. As relações afetivas também estão passando por profundas ransformações e revolucionando o conceito de amor. O que se busca hoje é uma relação compatível com os tempos modernos, na qual exista individualidade, respeito, alegria e prazer de estar junto, e não mais uma relação de dependência, em que um responsabiliza o outro pelo seu bem-estar.
A idéia de uma pessoa ser o remédio para nossa felicidade, que nasceu com o romantismo está fadada a desaparecer neste início de século. O amor romântico parte da premissa de que somos uma fração e precisamos encontrar nossa outra metade para nos sentirmos completos.
Muitas vezes ocorre até um processo de despersonalização que, historicamente, tem atingido mais a mulher. Ela abandona suas características, para se amalgamar ao projeto masculino.
A teoria da ligação entre opostos também vem dessa raiz: o outro tem de saber fazer o que eu não sei. Se sou manso, ele deve ser agressivo, e assim por diante. Uma idéia prática de sobrevivência, e pouco romântica, por sinal.
A palavra de ordem deste século é parceria. Estamos trocando o amor de necessidade, pelo amor de desejo. Eu gosto e desejo a companhia, mas não preciso, o que é muito diferente.
Com o avanço tecnológico, que exige mais tempo individual, as pessoas estão perdendo o pavor de ficar sozinhas, e aprendendo a conviver melhor consigo mesmas. Elas estão começando a perceber que se sentem fração, mas são inteiras.
O outro, com o qual se estabelece um elo, também se sente uma fração. Não é príncipe ou salvador de coisa nenhuma. É apenas um companheiro de viagem. O homem é um animal que vai mudando o mundo, e depois tem de ir se reciclando, para se adaptar ao mundo que fabricou.
Estamos entrando na era da individualidade, o que não tem nada a ver com egoísmo. O egoísta não tem energia própria; ele se alimenta da energia que vem do outro, seja ela financeira ou moral.
A nova forma de amor, ou mais amor, tem nova feição e significado. Visa à aproximação de dois inteiros, e não a união de duas metades.
E ela só é possível para aqueles que conseguirem trabalhar sua individualidade. Quanto mais o indivíduo for competente para viver sozinho, mais preparado estará para uma boa relação afetiva.
A solidão é boa, ficar sozinho não é vergonhoso. Ao contrário, dá dignidade à pessoa. As boas relações afetivas são ótimas, são muito parecidas com o ficar sozinho, ninguém exige nada de ninguém e ambos crescem.
Relações de dominação e de concessões exageradas são coisas do século passado. Cada cérebro é único. Nosso modo de pensar e agir não serve de referência para avaliar ninguém. Muitas vezes, pensamos que o outro é nossa alma gêmea e, na verdade, o que fizemos foi inventá-lo ao nosso gosto.Todas as pessoas deveriam ficar sozinhas de vez em quando, para estabelecer um diálogo interno e descobrir sua força pessoal.
Na solidão, o indivíduo entende que a harmonia e a paz de espírito só podem ser encontradas dentro dele mesmo, e não a partir do outro. Ao perceber isso, ele se torna menos crítico e mais compreensivo quanto às diferenças, respeitando a maneira de ser de cada um. O amor de duas pessoas inteiras é bem mais saudável. Nesse tipo de ligação, há o aconchego, o prazer da companhia e o respeito pelo ser amado. Nem sempre é suficiente ser perdoado por alguém, algumas vezes você tem de aprender a perdoar a si mesmo!...
PS: Caso tenha ficado curioso em saber o significado de SAWABONA, é um cumprimento usado no sul da África e quer dizer:
"EU TE RESPEITO, EU TE VALORIZO, VOCÊ É IMPORTANTE PRA MIM".
Em resposta as pessoas dizem "SHIKOBA", que é:
"ENTÃO, EU EXISTO PRA VOCÊ".

Flávio Gicovate

Saturday, December 27, 2008

"Nisto é em nós aperfeiçoado o amor, para que, no Dia do Juízo, mantenhamos confiança; pois, segundo ele é, também nós somos neste mundo. No amor não existe medo; antes, o perfeito amor lança fora o medo. Ora, o medo produz tormento; logo, aquele que teme não é aperfeiçoado no amor. Nós amamos porque ele nos amou primeiro. Se alguém disser: Amo a Deus, e odiar a seu irmão, é mentiroso; pois aquele que não ama a seu irmão, a quem vê, não pode amar a Deus, a quem não vê" (I João 4:17-20)

Tuesday, December 16, 2008


"Quando estiveres provado a sensação de voar, andarás na terra com os olhos voltados para o céu onde esteve e para onde desejarás voltar"

Monday, December 08, 2008

Mudam-se os tempos, mudam-se as vontades,
Muda-se o ser, muda-se a confiança;
Todo o mundo é composto de mudança,
Tomando sempre novas qualidades.
Continuamente vemos novidades,
Diferentes em tudo da esperança;
Do mal ficam as mágoas na lembrança,
E do bem, se algum houve, as saudades.
O tempo cobre o chão de verde manto,
Que já foi coberto de neve fria,
E em mim converte em choro o doce canto.
E, afora este mudar-se cada dia,
Outra mudança faz de mor espanto:
Que não se muda já como soía.

Luís de Camões

Friday, November 28, 2008

Sinto muito (Música : Sorry ....Daniel Bedingfield)

Você é minha melhor amiga
Não, não é
Você é minha irmã, fique no seu lugar
Não posso fingir que você não é
Uma ameaça para mim; preciso do meu espaço.
Não estou mentindo, eu valorizo a sobrevivência
Acima de você.
Estou por minha própria conta
Não, não estou
Tenho minha irmã para lutar por mim
Não posso fingir que você não lutará,
Pois você ama a mim mesmo, mais do que eu
Não estou mentido, então freqüentemente você me escolhe
Acima de você.
E tenho tentado curar as feridas
Agir como se nunca tivesse acontecido
E sei que fiz o melhor que pude
Mas nunca consigo curar as cicatrizes.
Quero dizer que sinto muito, mas sei que vou fazer de novo,
Vou fazer de novo.
Sei o que fiz, mas ainda não sei o motivo
Quero dizer que sinto muito, mas sei que vou fazer de novo
Vou fazer de novo
Vou fazer de novo com você
Não quero te magoar mais.
Eu chego perto
Sinto seu amor
Depois afasto você de mim
Me protejo
Não estou a salvo quando meus limites são violados
E é matar ou morrer
Então eu escolho a mim mesmo
Acima de você.
Crescer é a minha desculpa
E com minha desculpa, eu atinjo você
E sei que tenho de mudar
Mas nunca consigo imaginar como.
Como posso dizer que sinto muito, quando sei que vou fazer de novo?
Fazer de novo.
Sei o que fiz, mas ainda não sei o motivo
Quero dizer que sinto muito, mas sei que vou fazer de novo
Farei de novo
Farei de novo
Não quero mais magoar você.
Tenha uma crise de raiva
Atinja o alvo errado,Minha irmãzinha.
Não importa o que eu digo
Eu amo você tanto, que não posso ir embora
Mas quando a família fica próxima demais
Eu sempre acho difícil respirar.
Como posso dizer que sinto muito quando vou fazer de novo?
Vou fazer de novo.
Sei o que fiz, mas ainda não sei o motivo
Como posso dizer que sinto muito, quando sei que vou fazer de novo?
Vou fazer de novo
Vou fazer de novo
Eu não quero mais magoar você

Enviado pela minha mana Kelly!
Mana te amoooooooo

Sunday, October 12, 2008

Imagem: Salto dos Macacos - Morretes

Só porque é grande o meu apreço.

Minha mente se expande e agora preciso de mais espaço.


Sunday, September 14, 2008

"O senhor... Mire veja: o mais importante e bonito, do mundo, é isto: que as pessoas não estão sempre iguais, ainda não foram terminadas - mas que elas vão sempre mudando. Afinam e desafinam. Verdade maior." (Guimarães Rosa)

Tuesday, September 02, 2008

CRESCI; e nisso é que a família não interveio; cresci naturalmente como crescem as magnólias e os gatos. Talvez os gatos são menos matreiros, e com certeza, as magnólias são menos inquietas de que eu era na minha infância. Um poeta dizia que o menino é pai do homem. (Memórias póstumas - Machado de Assis)

Tuesday, August 12, 2008

Não digas nada!
Nem mesmo a verdade
Há tanta suavidade em nada se dizer
E tudo se entender -
Tudo metade
De sentir e de ver...
Não digas nada
Deixa esquecer
Talvez que amanhã
Em outra paisagem
Digas que foi vã
Toda essa viagem
Até onde quis
Ser quem me agrada...
Mas ali fui feliz
Não digas nada.
Fernando Pessoa

Monday, July 28, 2008

“ O dito dizia que o certo era a gente estar sempre brabo de alegre,
alegre por dentro,mesmo com tudo de ruim que acontecesse,
alegre nas profundas, podia?
Alegre era a gente viver devagarinho, miudinho,
não se importando demais com coisa nenhuma.”
( João Guimarães Rosa,in Campo Geral )

[Vida Contida]

Nada queriam além do imediato, nada além do contido. Mais um pedaço de tudo, mais um bocado de muito. Sobre a face da mão, colocam uma rosa em botão. Sobre um porque e um não sempre sobra a confusão. Um a menos causa caos, um a mais é demais. Passa raspando, raspa rasgando quem vê a vida por detrás. Joga luz sobre vidraça, lança fogo sobre o lodo. Quando quente derrete o osso. Quando frio estremecem. Nada esperam em demasia, nada se lança ao vento e volta. Tudo gira num instante e no fim todos se esquecem.

Friday, July 25, 2008


Porque há desejo em mim, é tudo cintilância.
Antes, o cotidiano era um pensar alturas
Buscando Aquele Outro decantado
Surdo à minha humana ladradura.
Visgo e suor, pois nunca se faziam.
Hoje, de carne e osso, laborioso, lascivo
Tomas-me o corpo. E que descanso me dás
Depois das lidas. Sonhei penhascos
Quando havia o jardim aqui ao lado.
Pensei subidas onde não havia rastros.
Extasiada, fodo contigo
Ao invés de ganir diante do Nada.

Hilda Hilst

Thursday, July 24, 2008


Me disponho a acreditar que "o sempre" chega atrasado e "o nunca" se repete. Cada passo incerto é um querer contínuo de um descontínuo viver. Vivendo à beira, na ladeira... que pedreira. Sejamos vida na propriedade viva de cada matéria.

Wednesday, July 23, 2008

Surdina

Minha poesia é toda mansa.
Não gesticulo, não me exalto...
Meu tormento sem esperança
tem o pudor de falar alto.

No entanto, de olhos sorridentes,
assisto, pela vida em fora,
à coroação dos eloqüentes.
É natural: a voz sonora
inflama as multidões contentes.

Eu, porém, sou da minoria.
Ao ver as multidões contentes
penso, quase sem ironia:
"Abençoados os eloqüentes
que vos dão toda essa alegria."

Para não ferir a lembrança
minha poesia tem cuidados...
E assim é tão mansa, tão mansa,
que pousa em corações magoa
doscomo um beijo numa criança.

Ribeiro Couto
In:"Poemetos de ternura e de melancolia"
O QUE É O QUE É...
Sou a areia que se deixou guiar pelo vento... poeira.
Sou a àgua que transcorreu a terra... o lodo.
Sou a seiva bruta que se deixou queimar... a fumaça.
Sou a sombra... o contrário... sou aquilo que virá.
Sou a meta, a osmose... a metamorfose.

Tuesday, July 22, 2008

Deixe que chore, deixe chorar... as lágrimas ameaçam os olhos daqueles que fingem não ver e revela a plenitude da essência de sua ternura.

Monday, July 21, 2008


Pequenos são os instantes que nos permitimos fluir. Lançar vôo de olhos vendados e deixar-se dominar pelo compasso cardíaco. Reativo é o tremor das pápebras que insistem em abrir na hora errada... mas logo se fecha ao som do estrondo que reage ao impacto da luz sobre a superfície ocular... e é isso que sega! Na secura da saliva intácta se engole as palavras gastas. Desgaste e lance fora a goma que impede aquele vôo. Em vôo, se revela algo secreto: os instantes são eternos e a vibração é constante. Desconhecemos a salto e tememos a queda, mas é nele que se eleva o lúcido fluir da ritmia humana.

Friday, July 18, 2008

É preciso não esquecer nada:
nem a torneira aberta nem o fogo aceso,
nem o sorriso para os infelizes
nem a oração de cada instante.
É preciso não esquecer de ver a nova borboleta
nem o céu de sempre.
O que é preciso é esquecer o nosso rosto,
o nosso nome, o som da nossa voz, o ritmo do nosso pulso.
O que é preciso esquecer é o dia carregado de atos,
a idéia de recompensa e de glória.
O que é preciso é ser como se já não fôssemos,
vigiados pelos próprios olhos severos conosco, pois o resto não nos pertence.

Cecília Meireles

Sunday, July 13, 2008

A história do pincel sem cor...
Me disseram que o pincel quis passar-se por lápis, pois cansou-se de perder a sua cor. Deixou a timidez e lançou-se à escrever. Contudo não esperava, encontrar o lapis de cor. Este, por sua vez, uma cor foi-lhe fixada... O pincel desde então, percebeu-se que ser lápis, caia meio em vão, pois traço que borracha apaga, não deixa rastros não. O pincel inconformado, sonhou ser lápis de cor então. Pôs-se a pintar, mas logo se angustiou: "como posso com uma cor só, colorir o meu jardim?". Assim, pincel sem cor custou a perceber que sendo ele como é, detinha a magia de toda a cor.

Wednesday, July 09, 2008


... presumo que a condição primeira para a concretude desse verbo de ação (amar) é render-se ao mais singelo ato e adquirir o dom de ouvir as "entrelinhas". Esquivando-se da ruptura existente entre a distância que separa uma mão da outra e a extenção submersa que enlaça a sutil diferença entre o amor-próprio e o não-eu.


Monday, July 07, 2008


Sonho de uma flauta - Teatro Mágico

Nem toda palavra é
Aquilo que o dicionário diz
Nem todo pedaço de pedra
Se parece com tijolo ou com pedra de giz
Avião parece passarinho
Que não sabe bater asa
Passarinho voando longe
Parece borboleta que fugiu de casa
Borboleta parece flor
Que o vento tirou pra dançar
Flor parece a gente
Pois somos semente do que ainda virá
A gente parece formiga
Lá de cima do avião
O céu parece um chão de areia
Parece descanso pra minha oração
A nuvem parece fumaça
Tem gente que acha que ela é algodão
Algodão as vezes é doce
Mas as vezes é doce não
Sonho parece verdade
Quando a gente esquece de acordar
E o dia parece metade
Quando a gente acorda e esquece de levantar
Ah e o mundo é perfeito
Hum e o mundo é perfeito
E o mundo é perfeito
Eu não pareco meu pai
Nem pareco com meu irmão
Sei que toda mãe é santa
Mas a incerteza traz inspiração
Tem beijo que parece mordida
Tem mordida que parece carinho
Tem carinho que parece briga
Tem briga que aparece pra trazer sorriso..

Sunday, July 06, 2008

O VÔO - Menotti Del Picchia

Goza a euforia do vôo do anjo perdido em ti.
Não indagues se nossas estradas, tempo e vento, desabam no abismo.
Que sabes tu do fim?
Se temes que teu mistério seja uma noite, enche-o de estrelas.
Conserva a ilusão de que teu vôo te leva sempre para o mais alto.
No deslumbramento da ascensão se pressentires que amanhã estarás mudo esgota, como um pássaro, as canções que tens na garganta.
Canta. Canta para conservar a ilusão de festa e de vitória.
Talvez as canções adormeçam as feras que esperam devorar o pássaro.
Desce que nasceste não és mais que um vôo no tempo.
Rumo do céu? Que importa a rota.
Voa e canta enquanto resistirem as asas.

Friday, July 04, 2008


O que carrega coração?
Um buquê, uma abolição?
Sopro de euforia
Sonho de cortezia
Estrondo de alegria
É imaginação?

Monday, May 05, 2008

Un viaje largo- La historia de Ester (Marcela Gandara)
"Tem sido uma longa viagem mas finalmente chegou ao fim.
A luz brilhou para mim, mas do que todos os meus temores.
Foram muitos vales de insegurança que eu cruzei.
Foram muitas dúvidas a cada dia...
Mas finalmente chegou o fim, e eu vim a entender.

Que para esta hora chegar e para este tempo eu nasci, e em seus propósitos eternos eu me vi.
Para esse tempo chegar, mesmo que eu tenha custado a crer dentro dos seus planos hoje eu me encontrei.

E eu nunca imaginei que dentro em seu amor,
E dentro de seus planos encontraria a mim.
Foram muitas vezes que o medo tentou me impedir.
Foram tantos dias de dúvidas, mas cheguei ao fim.
E foi voce quem me trouxe ate aqui.

Thursday, May 01, 2008

Contrários - Fabio de Melo

Só quem já provou a dor
Quem sofreu, se amargurou
Viu a cruz e a vida em tons reais
Quem no certo procurou
Mas no errado se perdeu
precisou saber recomeçar
Só quem já perdeu na vida sabe o que é ganhar
Porque encontrou na derrota o motivo para lutar
E assim viu no outono a primavera
Descobriu que é no conflito que a vida faz crescer
Que o verso tem reverso
Que o direito tem avesso
Que o de graça tem seu preço
Que a vida tem contrários
E a saudade é um lugar
Que só chega quem amou
E que o ódio é uma forma tão estranha de amar
Que o perto tem distâncias
E que esquerdo tem direito
Que a resposta tem pergunta
E o problema solução
E que o amor começa aqui
No contrário que há em mim
E a sombra só existe quando existe alguma luz.
Só quem soube duvidar
Pôde enfim acreditar
Viu sem ver e amou sem aprisionar
Quem no pouco se encontrou
Aprendeu multiplicar
Descobriu o dom de eternizar
Só quem perdoou na vida sabe o que é amar
Porque aprendeu que o amor só é amor
Se já provou alguma dor
E assim viu grandeza na miséria
Descobriu que é no limite
Que o amor pode nascer...

"o mais importante não é viver, mas saber as razões pelas quais se vive" Sócrates
Que este mês seja majestosamente lindo!!!

Sunday, April 27, 2008

"NÃO. Vou perder o resto do medo do mau-gosto, vou começar meu exercício de coragem, viver não é coragem, saber que se vive é a coragem - e vou dizer que na minha fotografia eu via O Mistério" Clarice Lispector - Paixão segundo G.H.
Porque insiste em tentar dizer que compreende?
Sente o que sinto e vive meu sentimento?
Alerta! Cintos apertados de zíperes abertos...
Lacunas mentais e escavações ordinais
A ordem e progresso em marcha sintilante
Brilha conforme a luz do sol que aquece o asfalto
Que ao tocar no chão vira sombra e entra em combustão
Caminha conforme a noite que chega apressado
Mais um dia que passa e já é passado...
Desse jeito até o amanhã já chega atrasado.

Não ouse olhar em meus olhos e ser como sempre tão delicado.
Não ouse chamar por mim, dizer que estamos bem e que o delírio é meu mascote, meu bicho de estimação.
Não tente entender o que digo, mas cale-se quando eu grito e engula-me pouco a pouco como um vinho adormecido e, em cada gota, sinta o sabor trêmulo do meu pranto, pois é o seu também...
Não mude sua postura, não finja estar nu, pois já não ouço em sua voz a mansidão de uma idéia crua. Suas idéias já há tempo afogadas em banho-maria...
Livre do domecílio, solto pelos ares, estampado nas folhas laterais... Minha vida, minha lástima, meu encanto mudo... já se fez surdo.


Monday, April 21, 2008

A boca cala, ilusão consente. Céus! Que decadência! Um pouco mais de cor! Um pouco mais de luz, por favor? Não... a luz ofuscou-te os olhos e agora não sabes mais aonde estás. Da janela o vento sopra, sim, disso eu sei, e ele sempre volta para o mesmo lugar... ao mar. É como estar em frente à praia e não se molhar. É como estar à beira de uma explosão de idéia e não ter voz para gritar. Então fico à espera de uma carta que nunca virá. Quando é a hora de abrir a boca ou mergulhar?

Sunday, April 20, 2008

Se tu pudesses me ouvir e bastasse apenas o teu suspiro para me fazer aquietar. Talvez sentiria que estás aqui e saberia que existe ainda um lugar em que posso ficar. Se ao menos pudesse entender para quê lado tu estás, talvez já não estivesse aqui, pois me portaria em pé e começaria a andar. Porém, se de onde estou, ainda não ouço os passos teus e se de onde estás ainda não pôdes ver os meus... é talvez porque ainda não me ouviu chamar por ti e de ti nenhum suspiro de fato ouvi.

Friday, January 04, 2008

Coração Blindado
Engenheiros do Hawaii
Composição: Gessinger/fonseca/ayala/aranha/pedro A.

Fácil falar
Fazer previsões depois que aconteceu
Fácil pintar o quadro geral
Da janela de um arranha-céu
Sem ter que sujar as mãos
Sem ter nada a perder
Sem o risco de pagar pelos erros que cometeu
Fácil achar o caminho a seguir
Num mapa com lápis de cor
Moleza mandar a tropa atacar
Da tela do computador
Sem o cheiro
Sem o som
Sem ter nunca estado lá
Sem ter que voltar pra ver o que restou
Com a coragem que a distância dá
Em outro tempo em outro lugar
Fica mais fácil
Fácil demais
Fazer previsões depois que aconteceu
Fácil sonhar condições ideais
Que nunca existirão
Sempre a distância
Sem noção
O que rola pelo chão
Não são as peças de um jogo de xadrez
Com a coragem que a distância dá
Em outro tempo em outro lugar
Tudo é tão fácil

Tuesday, January 01, 2008

"Quando eu descobrir o que me assusta, saberei também o que amo aqui. O medo sempre me guiou para o que eu quero; e, porque eu quero, temo. Muitas vezes foi o medo quem me tomou pela mão e me levou. O medo me leva ao perigo. E tudo o que eu amo é arriscado." (Clarice Lispector - A Legião Estrangeira)

Correr riscos... que venha 2008!!

"...E então você não quis nada disso. E parou com a possibilidade de dor, o que nunca se faz impunemente. Apenas parou e nada encontrou além disso. Eu não digo que eu tenha muito, mas tenho ainda a procura intensa e uma esperança violenta. Não esta sua voz baixa e doce. E eu não choro, se for preciso um dia eu grito, Lóri..... Mas olhe para todos ao seu redor e veja o que temos feito de nós e a isso considerado vitória nossa de cada dia. Não temos amado, acima de todas as coisas. Não temos aceito o que não se entende porque não queremos passar por tolos. Temos amontoado coisas e seguranças por não nos termos um ao outro. Não temos nenhuma alegria que já não tenha sido catalogada. Temos construído catedrais e ficado do lado de fora pois as catedrais que nós mesmos construímos, tememos que sejam armadilhas. Não nos temos entregue a nós mesmos, pois isso seria o começo de uma vida larga e nós a tememos. Temos evitado cair de joelhos diante do primeiro de nós que por amor diga: tens medo. Temos organizado associações e clubes sorridentes onde se serve com ou sem soda... Temos disfarçado com falso amor a nossa indiferença, sabendo que a nossa indiferença é angústia disfarçada. Temos disfarçado com o pequeno medo o grande medo maior e por isso nunca falamos no que realmente importa. Falar no que realmente importa é considerado uma gafe... Temos sorrido em público do que não sorriríamos quando ficássemos sozinhos. Temos chamado de fraqueza a nossa candura. Temo-nos temido um ao outro, acima de tudo. E a tudo isto consideramos a vitória nossa de cada dia..." (Clarice Lispector)