Friday, March 30, 2007

“Ora, o homem natural não aceita as coisas do Espírito de Deus, porque para ele são loucura;
e não pode entendê-las, porque elas se discernem espiritualmente.”

1 Coríntios 2:14

Tuesday, March 27, 2007

Civilizações hostis, majestades afortunados, tribos pés-descalços. Fortes ou fracos, nos desertos ou mares... a busca pelo sentido da vida se faz presente e a pálida sensação de ausência no olhar comove as faces igualmente insossas, sabe-se que mais um dia é vinda quando o sol atravessa a linha do horizonte... Em cada caminhar o corpo todo se arrepia...
Já é tempo de derrubar o muro, atravessar a fronteira, caminhar afronte e bater na porta do vizinho. A mudança se faz com pequenos gestos de expressões acentuadas... o palco é daquele que marca o passo, marca-passo de cada passo, rumo à esperança de viver do amor, do amor somente, do amor louco e sonhador.
Existem dois tipos de seres: os que têm fome e os que têm sede. Aqueles que têm fome vivem do acúmulo, do apetite, do degustar das coisas grandes e saborosas... para se conseguir o alimento precisa ser esperto, bruto e cauteloso... a caça exige a prática do manejar ousado do machado ou do arco e da flecha.
Aqueles que têm sede vivem da fonte, da espera, da água que umedece a garganta seca, pouco a pouco... como é árduo matar a sede em tempos de seca, pois não a possuímos por mérito nosso, é constante andança em constante suor, porém chega-se o dia em que somos surpreendidos pela correnteza ou pela chuva e a água nos é oferecida gratuitamente.
Deste modo, a sede é soberana, pois chega certo momento em que a fome se esvai, retira-se anulando a possibilidade de preparar o prato. Resta então a sede, ela somente. É nesse momento... é nesse exato momento em que nos tornamos vulneráveis e colocamo-nos de joelhos, totalmente rendidos. A sede domina-te ao ponto de fazer estremecer o estômago em alarme de um grito louco!
Percebemos então que a seriedade é uma fachada, uma estátua sem fim estético apenas mórbido. A loucura... ela sim é rainha! Ela explode os nossos sentidos, cria e reconstrói o inimaginável. Transforma do amargo ao doce e da escuridão ao brilho intenso.
A loucura embebida no amor torna-se mestre da dinâmica dos sonhos e, mestre que é mestre, é capaz de colocar em prática os seus saberes, não permanece apenas nos devaneios...
Amor em ação é a loucura mais sóbria que um coração é capaz de criar.

Monday, March 26, 2007

SHINE - Mr. Big

Eu nunca me senti completamente tranquilo, e eu não sei o porque, tudo o que eu sei é que alguma coisa está errada
Toda a vez que eu olho pra você, você parece tão viva
Diga-me como você faz isto, me conduza, eu seguirei você em cada passo
Talvez seja porque você sabe como cuidar
Até quando chega ao ponto em que você desiste, mas tudo o que eu quero te dizer é:
Brilhe, Brilhe para mim
Brilhe nesta vida até que tudo esteja completamente queimado
Às vezes eu digo muitas coisas que não convêm
E eu ajo de maneira que eu nem sei o por que

Eu acho que é uma reação a tudo o que eu estive procurando
Quando você olha através de mim, você realmente me conheçe, como ninguém havia olhado até então
Talvez seja porque você sabe como cuidar
Até quando chega ao ponto em que você desiste, mas tudo o que eu quero te dizer é:

Brilhe, Brilhe para mim
Brilhe nesta vida até que tudo esteja completamente queimado (Eu sei, eu sei, sei que você tem algo)
Talvez seja porque você sabe como cuidar
Até quando chega ao ponto em que você desiste, mas tudo o que eu quero te dizer é:

Brilhe, Brilhe para mim (Apenas me mostre alguma coisa)
Brilhe nesta vida até que tudo esteja completamente queimado (Você me deu algo que eu ainda não sei)
Brilhe (Se você pôde me mostar o caminho)
Brilhe para mim (Eu quero estar em sua vida)

Brilhe nesta vida até que tudo esteja completamente queimado(Você não sabe o que eu quero?)
Brilhe, Brilhe para mim, Brilhe nesta vida até que tudo esteja completamente queimado

Friday, March 23, 2007

Nas ruas de outono, os meus passos vão ficar
E todo abandono que eu sentia, vai passar
As folhas pelo chão que um dia o vento vai levar
Meus olhos só verão que tudo poderá mudar
Eu voltei por entre as flores da estrada
Pra dizer que sem você não há mais nada
Quero ter você bem mais que perto
Com você eu sinto o céu aberto
Daria pra escrever um livro, se eu fosse contar
Tudo que passei antes de te encontrar
Pego sua mão e peço pra me escutar
Seu olhar me diz que você quer me acompanhar
Eu voltei por entre as flores da estrada
Pra dizer que sem você não há mais nada...
Ana Carolina - Ruas de Outono

Tuesday, March 20, 2007


"E tu estás comigo, por isso quero arrancar-te os olhos das órbitas e colocar no lugar dos meus, e tu arrancarás os meus olhos e colocarás no lugar dos teus, e então quero olhar-te com teus olhos e tu me olharás com os meus" (J. L. Moreno)

Saturday, March 17, 2007


Beautiful - Marillion
Todos nós sabemos que vivemos num mundo em que damos maus nomes às coisas belas
Todos nós sabemos que vivemos num mundo onde não sabemos presentear com coisas bonitas
Só Deus sabe que vivemos num mundo onde só falamos bonito quando temos algo para vender
Povos hipócritas que não dão nenhuma possibilidade à fragilidade e a sensibilidade
E as folhas se transformam de vermelho para marrom
Para serem pisadas ao chão
Para serem pisadas ao chão
E as folhas se transformam de vermelho para marrom
Caindo na terra
Caindo na terra
Não temos que viver num mundo assim
Devemos viver num mundo bonito
Devemos doar coisas belas o tempo todo
Você é forte o bastante para ser...
Você tem coragem para ser...
Você tem fé para ser...
Honesto o bastante pra dizer...
Não temos que ser sempre os mesmos...
Não temos que ser deste jeito
Venha e faça parte...
Você é corajoso o bastante para remanescer o bonito?
Você é forte o bastante para ser...
Porquê você não levanta e protesta?
Propicie o seu momento agora
Irão rir de você de qualquer jeito
Então... levante e seja belo...

Friday, March 16, 2007

O ovo e a galinha
"...A um certo modo de olhar, a um jeito de dar a mão, nós nos reconhece­mos e a isto chamamos de amor. E então não é necessário o disfarce: embora não se fale, também não se mente, embora não se diga a verdade, também não é mais necessário dissimular. Amor é quando é concedido participar um pouco mais. Poucos querem o amor, porque o amor é a grande desilusão de tudo o mais. E poucos suportam perder todas as outras ilusões. Há os que se voluntariam para o amor, pensando que o amor enriquecerá a vida pessoal. É o contrário: amor é finalmente a pobreza. Amor é não ter. Inclusive amor é a desilusão do que se pensava que era amor. E não é prêmio, por isso não envaidece, amor não é prêmio, é uma condição con­ce­di­da exclusivamente para aqueles que, sem ele, corromperiam o ovo com a dor pessoal. Isso não faz do amor uma exceção honrosa; ele é exatamente concedido aos maus agentes, àqueles que atrapalhariam tudo se não lhes fosse permitido adivinhar vagamente" - Clarice Lispector

Lispector, Clarice. O Ovo e a Galinha. In A Legião Estrangeira.
São Paulo, Ática, 1977, p. 81-84

Tuesday, March 13, 2007

É inútil indagar a razão do belo e do sublime... a criatura formosa não rende-se ao desconforto contido no amor, pois é paz entregue aos seus olhos. Finda o dia em suspiro, noite chega é acalento.
Coração dilacera o rancor. Mágoa não mais existe. Tédio é tolo, não cabe ao dicionário das palavras doces. Vive da alegria da mais simples presença. Vive na presença da mais plena essência. Essência por si simples, porém completa. Simplicidade é a mais pura beleza.

Sunday, March 11, 2007

A ROSA - Janis Joplin

Alguns dizem que o amor é como um rio,
Que deságua em sopro macio.
Alguns dizem que o amor é uma lâmina,
Que faz sangrar sua alma.
Alguns dizem que o amor é uma fome,
Em insatisfação sem fim,
Eu digo que o amor é uma flor,
E você é apenas uma semente.
É o coração, com medo da dor,
Que nunca aprende a dançar.
É o sonho, com medo de andar.
Que nunca perde a chance,
É o único que não se deixa levar,
Que não consegue, continua a ceder.
E a alma, com medo de morrer,
Nunca aprende a viver.
Quando a noite vem, torna-se solitário,
E a estrada torna-se longa.
Que você começa a pensar que o amor é o único,
Que está à procura da sorte e da força...
Apenas lembre-se do inverno,
Que abaixo de cada gota da neve,
Encobre a semente que com o sol do amor,
Na primavera transforma-se em rosa.

Thursday, March 08, 2007

Denuncio o golpe baixo que me fez render o coração. Foi numa noite, parecia combinado, já era esperado que me ajoelhasse e me recuasse, abaixando as minhas mãos em punho. Foi dos teus olhos que de súbito abri os meus e do sonho fez-se o silencio... silencio árduo, silencio quente e abafado. Percebi então que já me perdia como quem perde uma moeda no bolso de um casaco velho e rasgado. Sim, confesso que não resisti, aceitei a condição que o silencio me impunha. Com todo cuidado mostrou-me um caminho verde-musgo todo enfeitado com esmeraldas de pontas afiadas... por instantes tive medo, mas o brilho encheu-me os olhos. A cada passo inseguro, meus pés descalços partia ao meio algumas das pedras do caminho, porém outras cravavam-me de forma rígida e impiedosa. Estremeci, chorei, gritei de tanta dor, mas o silêncio tratou de exercer o seu papel e não me disse nada... mas foi o nada que me fez levantar e ir atrás de uma resposta. Pedra por pedra, passo por passo, uma de cada vez. Lancei ao ar um sopro tímido, como um beijo de criança ao despedir. Do sopro fez-se o vento que elevou meus pés do chão. Em vôo sei que vi. Não me engano. Vi como quem vê as formigas carregando folhas secas para o inverno. Vi-te carregando pedaços de um coração. Pedaços pesados e encharcados... de sabor agridoce. Vi-te entulhar sentimentos, acumular sonhos e eliminar o excesso de paixão por acreditar ser bobo. Vi-te preparar para a guerra, correr para o campo e lutar com armaduras frágeis... atitudes vãs. Sei que vi muita coisa, garanto que vi. Mas nada se compara ao que vi em teu olhar. Olhar que desnuda, olhar que transborda, olhar que toca e me desmonta. Vi-te me vendo a ver-te. Podias também ver o coração que em mim batia, viu-me carregando pedaços desse coração, viu-me entulhar sentimentos, acumular sonhos e eliminar paixões. Viu-me na guerra, em lutas vãs. Vi... viu... veja, o silêncio nada me disse, mas me diga, quem foi que disse que o olhar é alfabetizado? Então sorri.

Wednesday, March 07, 2007

"Saudade é um pouco como fome. Só passa quando se come a presença. Mas às vezes a saudade é tão profunda que a presença é pouco: quer-se absorver a outra pessoa toda. Essa vontade de um ser o outro para uma unificação inteira é um dos sentimentos mais urgentes que se tem na vida". (Clarice Lispector - A descoberta do mundo)

Friday, March 02, 2007

O "facteur Cheval"
"Como o dia depende da inocência, o mundo inteiro depende de teus olhos puros"
Paul Éluard


Ferdinand Cheval, quando funcionário dos correios, tinha um sonho louco, uma idéia fixa, uma esperança a um só tempo fanática e fantástica: construir um castelo. Iniciou a construção aos 43 anos de idade com os piores recursos da sorte. Pedras que ele mesmo carregava num carrinho de mão debaixo de chacotas... Durou 32 anos a construção do castelo Cheval em Hauterives, região do Drôme, França, que hoje ainda está orgulhosamente de pé, à disposição de quantos queiram conhecê-lo. No castelo, dizem os que o viram, encontra-se uma prodigiosa mistura de todos os estilos artísticos e arquitetônicos, do gótico ao hindu, passando pelo árabe e românico. Não por acaso os surrealistas chamam a atenção, quando as dificuldades do mundo prático-pragmático parecem intransponíveis, para o famoso facteur Cheval, que possibilita romper com as pesadas cadeias da lógica formal e, erguendo alto a bandeira da imaginação e da Esperança, com muita labuta, vencer qualquer dificuldade.
Os positivistas, em geral, vêem o mundo de maneira lógica, formal, racional-cientificista, FEIO, em síntese. Às vezes me parece que, para eles, as coisas do mundo só fazem sentido se passíveis de redução a "bits" de computadores... A pergunta "qual o significado de uma flor?" para eles soa ridícula ou incompreensível. Sinto uma compaixão enorme desta gente desumanizada. A resposta à questão colocada foi dada pelo místico Ângelus Silésius, séculos atrás, mas pouco sentido fará aos positivistas, por mais linda que seja a sua mensagem: "Die Rose ist ohne warum, Sie blüet weil Sie blüet" .
É preciso re-humanizar também a Natureza. O Capital coisificou o homem, o surreal quer humanizar a coisa. É preciso ver o mundo com olhos novos mesmo, reaprender a apreciar o encantamento existente na vida!
Quedar-se extasiado ante um belo pôr-do-sol, às vésperas do luar e não dizer nem tentar explicar nada - sempre que possível, claro, em boa companhia... Se lágrimas vierem aos olhos, maravilha! Ver uma árvore florida e perceber o quanto de amor e vida está ali contido. Sabe de uma coisa? Se você olhar BEM, com os olhos do coração, como diria talvez Exupéry, no fundo do olhar de uma criança a sorrir está Deus a sorrir para você...
Às vezes o "tique-taque" do cotidiano mesquinho, medíocre, amesquinhante, mediocrizante, nos impede de perceber que há coisas muito maiores, coisas que passam por nós e nem mesmo percebemos por causa da droga da rotina.
Mas enquanto houver pôr-do-sol, luar, flores, lágrimas, casais de namorados e crianças a sorrir a Esperança ainda morará nesta terra.

Lázaro Curvêlo Chaves - 20/07/2000